segunda-feira, 15 de outubro de 2007

PERJÚRIO REVOLUCIONÁRIO?

DAS 00H20 DE 25 DE ABRIL DE 1974 ATÉ ÀS 19H10 DE 15 DE OUTUBRO DE 2007

Prólogo


Porque se fez o 25 de Abril?
Quem o planeou?
Quem o executou?
Quais os seus objectivos reais?
Porque se fez a Descolonização nos moldes em que foi feita, isto é durante um período revolucionário, sem qualquer legalidade ou legitimidade democrática?
Porque se Delapidou o Território Nacional sob os auspícios dum Governo Provisório, sem se assegurar o timing para a criação dum Governo Sufragado, Legítimo, Democrático e Constitucional?
Porque se demitiu Palma Carlos?
Porque fugiu Spínola do País?
Porque foram presos, sem Nota de Culpa formada, os que podiam contraditar o processo de descolonização?

*

Quando se acredita que nem sempre o que parece é, e nem sempre o que dizem ser é, então facilmente se acreditará também não existir realidade "pura", pois toda a acção é susceptível de estar contaminada por miríades de ficção.

É neste contexto que vamos tentar aceder a toda a acção que desembarcou no fenómeno denominado por “25 de Abril”.

Porque me arrisco a fazê-lo?

Apenas porque tudo o que dele se sabe, foi-nos dito por comprometidos.

Com o título escolhido pretendemos provocar abanões, sacudir preconceitos, criar impacto para que um dia se venha a saber Toda a Verdade, quem sabe.

Até lá proponho que fiquemos pelo Perjúrio Revolucionário uma anamnése que nos é escondida pela versão oficial.

O retrato da versão oficial sugere um Fenómeno determinístico, justificado numa espécie de cansaço institucional e num ardoroso desejo de mudança.
Mas terá sido mesmo assim?
Porque contém e se sustenta numa lógica de inegabilidade?
Ou será que o discurso oficial persiste em ostentar uma versão unilateral para assim conferir à revolução o epíteto de parideira da liberdade e da democracia?
E o encerro da guerra colonial ocorreu como consequência ou como causa do Fenómeno?
Chegou a hora de abordar o tema de frente, segurar o toiro pelos cornos sem medo, e enfrentar a verdade escondida pelo biombo oficial.

A Polemologia como ciência da guerra diz-nos que nela se ganha ou perde.

Apesar das premissas se manterem inalteradas, hoje em dia, o efeito de vitória e de derrota, por motivos de retórica ideológica e por oportunismo político, tendem a desaparecer da semântica das modernas soluções diplomáticas.

São as designadas de “soluções de compromisso”, o vulgo acordo.

Mas há que convir que estes acordos materializam uma solução do conflito preexistente, de forma velada escondem-se as vulnerabilidades mas a vitória ocorre sempre, melhor ou pior mascarada.

À mesa das negociações sentam-se na pele de signatários os mesmos conflituantes que interpretaram a estratégia que antes combateram pela armas e com derramamento de sangue.

E essa “rivalidade” não desaparece por artes de magia.

Até mesmo a “violência”, COMO PARECE TER SIDO O CASO, esteve sempre presente nessa Dita mesa das negociações.

Portanto o resultado traduz sempre moralmente, e quase sempre materialmente, um vencedor e um vencido, embora nenhum deles seja explicitamente declarado como tal, nem isso apareça no léxico do clausulado.

No caso português, a guerra colonial, travada entre 1961 e 1974, terminou, com base numa dessas soluções de compromisso, cujo resultado provocou uma profunda alteração da conjuntura só possível na consagração de um vencedor.

E de um vencido.

Embora uma das partes não reconheça esta especificação e esta não tenha sido formalmente declarada, a verdade é que existiu, de tal forma que a outra das partes à posteriori veio a reconhecê-lo.
A constatação do efeito de vitória e de derrota é algo de "materialmente" constatável, embora "moralmente" permaneça mesclado sob a subjectividade jurídica dum acordo.

É doloroso falar de derrota quando esta está soterrada num lamaçal de indisciplina política, numa sepultura de verborreia jurídica.

As condições do pseudo acordo (dito de mútuo!), os compromissos implícitos, a genealogia subversiva, a urgência (!) e, principalmente, os obreiros tudo fazem para esconder a derrota.

Recusam reconhecê-la, recusam falar dela, mas não conseguem escondê-la.

Com o 25-4, feito para tal fim, uma das partes venceu e ditou as condições da paz.

E fê-lo de forma impar, com um sucesso impensável, impondo ipso facto a solução estratégica que havia escolhido e adoptado.

Mas isso não daria para impulsionar a feitura deste livro.

A justificação reside na frieza da análise que nos leva ainda mais longe. A parte vencedora só o foi porque contou como apoio e auxílio dum motim de detractores que, sem escrúpulos não hesitaram em diligenciar, de má-fé, um acordo cúmplice visando a obliteração estratégica de parte pluricontinental do território nacional.

A intoxicação e o alarido consagraram uma epistemologia de inevitabilidade. Mas também isso nos é revelado como uma fórmula de marketing para esconder a cruel consequência.

A efeméride está mal contada.

Contém um biombo que oculta e alija as responsabilidades, as culpas, os dolos e as cumplicidades.

A aparente inevitabilidade e o fundamentalismo da irreversibilidade consuetudinária são os fundamentos teóricos daqueles que sustentam e encorajam a explicação laxativa e que usam a pós-penitência para desculpar o cocktail de taras e de delinquências que presidiram à solução, e que assim deixam ficar para a história a contradição e o equívoco.

Uma “verdade” que a palavra, a frase, o parágrafo e o texto oficial sonega, abafa, distorce ou encobre envergonhadamente, dando prova de que quando não existe meio-termo entre abandono e violência a resposta só poderá ser o insulto ou a mentira.


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